MATUTO INTELECTUAL
Interessado pela agricultura, Kydelmir Dantas
passou a vida estudando o tema, mas sua paixão pelo Nordeste o levou muito mais
longe, o tornando um pesquisador importante de alguns temas da região e um
personagem imprescindível para a história recente de Mossoró
Aonde Antôi Dedé chega é uma festa. O pai de Joaca e Dandan é um tipo
disputável de amigo, daqueles que a gente faz duas garrafas de café e um cuscuz
inteiro para ele ficar mais tempo. Lá em casa mesmo, suas passagens duram um
dia todo de muita conversa, porque assunto é outra coisa que ele tem de sobra
no bisaco.
Calma, Antôi Dedé, escrito assim mesmo, com esta grafia, é um personagem criado
pelo agrônomo e pesquisador Kydelmir Dantas, o cangaceiro de Mossoró.
Cangaceiro porque costuma vestir indumentárias que lembram os trajes dos velhos
bandidos e, também, óbvio, porque pesquisa sobre o tema há pelo menos 30 anos.
Kydelmir é sócio fundador da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC),
instituição que presidiu por dois mandatos, e também um dos colaboradores para
a criação do Cariri Cangaço, o mais importante evento sobre o tema do País.
Escrever sobre este sujeito é quebrar muitas regras do jornalismo e da
literatura. Meus textos neste espaço têm sido muito mais elogiosos do que
analíticos, reconheço, de modo que acabo fazendo homenagens ao invés de puro
perfil jornalístico. Mas, em tempos de tanta desesperança, quem disse que
jornalismo seco salva alguma coisa? Aí, neste caso, falar de Kydel, outro de
seus apelidos, é como falar de alguém da família e, atenção ao spoiler, é
possível que eu dê umas bajuladas ainda maiores.
Nos conhecemos há muito tempo. Depois de nossa amizade muito forte, fiquei
amigo de Joaquim, seu filho mais velho, e sujeito igualmente interessante. A
diferença é que, enquanto o Velho é todo matuto e cabrão do mato, Joaca é
roqueiro e cheio de tatuagens. O bicho tem um estilo moderno demais, além disso
é fera, para não dizer um palavrão, nas Letras, alcançando o título de doutor
antes dos 30 anos.
Tive a honra de ser indicado por Kydelmir para o Instituto Cultural do Oeste
Potiguar (ICOP), hoje presidido por Cláuder Arcanjo e Ângela Gurgel. Ele mesmo
está sócio desde 2000, tendo participado de grandes momentos deste órgão
importante para a cultura nordestina e brasileira.
Como consultor do Chuva de Balas no País de Mossoró durante anos, Kydel ajudou
a deixar a história mais crível, ao mesmo tempo que ganhou o respeito e carinho
das dezenas de atores e atrizes que fazem deste um dos mais importantes
espetáculos ao ar livre do Nordeste.
Sua presença em Mossoró é folclórica e fundamental. Desde que chegou por aqui
há mais de três décadas, tem se dedicado a estudar, compartilhar informações e
aproximar pessoas. Foi assim que conheceu e desenvolveu amizade com algumas das
principais personalidades culturais da cidade, como Raimundo Soares de Brito,
Dorian Jorge Freire, Vingt-un Rosado e muitos outros intelectuais que seguem
entre nós. Geraldo Maia, principal pesquisador histórico da cidade, disse que
começou a publicar seus textos graças à intervenção de Kydelmir junto aos
jornais locais.
Todo mundo conhece um pouco do velho Kyldemir, grafia de seu nome que ele
detesta, mas, na possibilidade de nem todos saberem sobre sua trajetória, fui
conversar com ele e colher alguns detalhes não revelados, até agora.
Nos encontramos por acaso em Natal, em um shopping. Eu tinha acabado de sair do
cinema e ele esperava seus filhos para jantar. Jantamos juntos e deixamos a
conversa nos conduzir. Voltei para casa à meia noite, vindo já do apartamento
de Joaquim, na avenida Maria Lacerda, deixando pendurado um monte de assuntos
pendentes.
Foi lá, sentado no sofá da sala que passei a entrevistá-lo para este perfil,
prometendo ser dos mais leves que já escrevi. No apartamento, chamava atenção
as referências cults, nerds, geeks e grunges dos filhos roqueiros, as garrafas
vazias de bourbons e o poodle velhinho, de uns 12 anos, protegendo seus
brinquedos de pelúcia.
Nenhuma daquelas imagens tinha relação com meu entrevistado que usava uma
camisa com o brasão da família Dantas e uma sandália de rabicho. A fala de bode
rouco, como costumamos aperreá-lo, carregada de um sotaque poti-paraibano e sua
fixação pela tradição dos símbolos e cultura nordestina, mostrava outro polo.
Mas as tatuagens de Joaquim e a cabeleira de Daniel não representam uma atitude
de rebeldia, muito pelo contrário, é uma mostra da autonomia conquistada a
partir da criação dada pelo pai.
Antônio Kydelmir Dantas de Oliveira nasceu em Nova Floresta, Paraíba, no dia 06
de setembro de 1958. Filho mais velho do agricultor Manoel Batista de Oliveira,
ou Seu Né de Joca, natural de Jaçanã, RN, e da professora Angelita Dantas de
Oliveira (falecida aos 77 anos), natural de Frei Martinho, PB, costuma dizer
que nasceu entre estes dois estados.
Este nome peculiar foi dado por seu Né, um sujeito baixinho e gentil, copiado
de um médico carioca. Dessa alcunha, dona Agelita derivou o nome dos outros
filhos: Kidelci (mulher), Kidelmar e Kidelman (homens), Kênia e Kilma
(mulheres). Ela pode ter exagerado nas denominações, mas a forma que os criou e
a gentileza que eles adquiriram os tornam únicos no mundo. Também pudera, ela,
com seu jeitinho professoral era, sem exagero, de uma delicadeza realmente
angelical. Regiane e eu tivemos a chance de conhecê-la antes que partisse para
seu reino eterno.
As principais lembranças de infância de Kydel estão em Nova Floresta, mais
precisamente no sítio Chã da Bolandeira, do pai, no município de Jaçanã. Apesar
das dificuldades de comunicação da época, foi por ali que teve os primeiros
acessos à cultura e a literatura.
Filho de professora, tinha acesso a livros. O pai, apesar de só ter o terceiro
ano primário, era assinante da revista O Cruzeiro. Tinham um rádio AM e à
noite, o menino Kydelmir, sempre mirrado e pra frente, escutava as rádios
Sociedade da Bahia, Nacional e Globo do Rio de Janeiro e ali conhecia os
principais assuntos e músicas nacionais.
Tinha ainda um tio que sempre gostou de cantoria e que o levava para ver os
cantadores. Eram novidade também os espetáculos mambembes que passavam pela
região. O próprio Bastos Mamulengueiro, sujeito conhecido por lá, fazia
apresentações na garagem e até dormia na casa de seu Né.
– O cordel veio de madrinha Minu, que
era minha avó por ser madrasta de meu pai. Ela me pedia para ler folhetos ou
romances para ela. Já o tema cangaço, comecei a me interessar por causa de meu
pai que era filho de um coronel, participante da guerra de 1914, em Juazeiro,
defendendo as hóstias de Padre Cícero.
O avô que Kydel se refere era seu
João Batista de Oliveira, o Joca Sapateiro. Ele combateu na chamada Sedição de
Juazeiro, uma revolta de caráter popular liderada pelo padre Cícero Romão
Batista e pelo médico e político Floro Bartolomeu da Costa, contra o governo do
presidente Hermes da Fonseca.
Interessante nesta história é a
ligação importante desses personagens com os interesses que Kydelmir adquiriria
no futuro. Em 1925, Floro Bartolomeu, então deputado, foi encarregado pelo
presidente Arthur Bernardes de combater a Coluna Prestes e, para isso, criou o
que chamou de “Batalhão patriótico” que incluía militares, agricultores comuns
e cangaceiros.
Há quem diga que este movimento
renovou o poderio bélico do cangaço, mas não só isso. A patente de capitão de
Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, teria sido prometida por Floro que
nunca chegou a entregá-lo. O título foi dado ao cangaceiro por Padre Cícero,
mas era um papel sem valor, feito apenas para evitar que o facínora se
rebelasse. Segundo conta o próprio Kydelmir, para assinar a suposta patente,
foi chamado o único funcionário federal da região que nada tinha a ver com as
forças armadas.
O menino de Nova Floresta ouviu muitas histórias sobre o cangaço, tanto que
acabou se tornando um pesquisador do tema. Mas ele sempre foi um estudante
interessado. Começou os estudos no Grupo Escolar Deputado José Pereira, em Nova
Floresta. De lá, fez o exame de admissão para o Ginásio Agrícola de Currais
Novos, RN, onde concluiu o primário. O ginásio ele fez na atual Escola Agrícola
de Jundiaí, da UFRN, em Macaíba, concluindo o curso de técnico agrícola em
agropecuária em 1977. Entre 1979 e 1984, cursou agronomia na Universidade
Federal da Paraíba (UFPB), no campus de Areia.
Seu primeiro emprego, após terminar o curso superior, foi no sítio da família,
na colheita da castanha de caju. Meses depois, conseguiu uma posição na
Secretaria Estadual de Agricultura da Paraíba. Assim que tomou posse para o
cargo em comissão, foi solicitado pelo amigo e colega da faculdade, Oséas de
Almeida Neto, então diretor do Colégio Agrícola Vidal de Negreiros, em
Bananeiras, PB, para atuar como professor.
Ficou lá até 1987, quando passou no
concurso da Petrobras, mudando-se para Mossoró, onde permaneceu até 2017. Na
estatal, começou a trabalhar na Gerência de Liberação de Terras, depois foi
transferido para a Gerência de Meio Ambiente e para a Gerência de Serviços
Gerais, onde chegou ao posto de prefeito da Base 34. Perto de se aposentar,
pediu para voltar à primeira gerência “para fechar o círculo”.
As lembranças dessa época são
interessantes. Assim que chegou a Mossoró, hospedou-se no Hotel Sol, onde hoje
funciona a Câmara Municipal. A cidade era tão provinciana que a praça em frente
ao Mercado Central era uma feira livre, onde dormiam os feirantes, fazendo
aquela região parecer uma enorme favela
Um ano depois de chegar à Petrobras,
casou-se com a dentista Régia, de Recife, PE, com quem namorava há dois anos.
Desta união nasceram Joaquim, 1989, e João Daniel, 1993. Os dois moram hoje em
Natal e são professores universitários. Joaquim doutor em Ciências da Linguagem
e Daniel em Filosofia.
O nascimento desses meninos representa a maior realização de Kydelmir, mas
também marcam um dos momentos mais difíceis de sua vida. Depois de 12 anos,
Régia e ele decidiram se separar. Joaquim tinha 10 anos, Daniel 7. Para não
traumatizar as crianças, ainda ficou na casa da ex-mulher por oito meses até
que as coisas acalmaram e ele pode, com a ajuda dos meninos, escolher um
apartamento para a mudança.
– Só superei isso pensando no melhor
para os meus filhos. Eu só pensava neles e, por isso, só me sentava alegre, demonstrando
tranquilidade.
O interesse de Kydelmir por história coube em Mossoró como uma luva. Na cidade
descobriu um filão. Encontrou o tema da resistência ao bando de Lampião, o
museu Lauro da Escóssia aberto para pesquisar e o pesquisador Raimundo Soares
de Brito, Raibrito, disposto a guiá-lo neste caminho.
– Ele foi meu pai cultural nesta
parte de pesquisa histórica. Ele quem me incentivou a pesquisar, a ir atrás dos
dados, a escutar mais de uma vez e a escutar mais de uma testemunha dos fatos
para não tomar uma posição definitiva.
Desde menino ele já escrevia e até se aventurava em poesia, mas é em Mossoró
que se desgarra para escrever coisas relevantes, possíveis de publicação. Em
1995, a banda de música de Nova Floresta completaria 30 anos de fundação e de
atuação ininterrupta, então decidiu publicar a sua história com o título de
“Filarmônica José Batista Dantas, 30 anos de glória”.
O livro foi lançado na festa de 30
anos da instituição com a presença do editor, Vingt-un Rosado, e sua esposa,
América Rosado. O detalhe é que era um 30 de dezembro. Vingt-un e América
dormiram na casa de Seu Né e no dia seguinte voltaram para Mossoró para passar
o réveillon ao lado da família.
Vingt-un costumava comprava o livro
de seus editados, mesmo depois de todo o incentivo que dava. Mas o cheque que
usou para pagar a Kydelmir nunca foi descontado. Virou artigo de recordação e
ainda hoje está colado em um dos livros.
Neste mesmo período, a Fundação José Augusto lançou a coleção “Chico Traíra” e,
por este caminho, ele lançou seu primeiro cordel: “O cangacêro atrapaiado”.
Dali em diante não parou mais de escrever, tendo dezenas de artigos e cordéis
publicados.
É de sua autoria também os livros: Mossoró e o Cangaço (1997); Severino
Ferreira, o assum preto da viola (1997); Os três pilares da música popular
nordestina (1998); Retalhos e Remendos (2001), em parceria com Wanderlei
Azevedo; Luiz Gonzaga e o Rio Grande do Norte (2012); Filarmônica José Batista
Dantas, 50 anos (2015); Trio Mossoró, uma antologia (2017) e Galos de Campina
(2018), em parceria com Bráulio Tavares e Jessier Quirino. Para 2019, está no
prelo, Jackson do Pandeiro na literatura de cordel.
Em 2017, resolveu se aposentar. Ainda ficou por Mossoró um tempo, mas o desejo
de voltar às origens e de colaborar com sua cidade natal o carrearam de volta
para Nova Floresta. Isso e os olhos da professora Nerizângela Silva, com quem
compartilha hoje sua vida e planos.
Como avisei no começo, este seria uma
conversa adocicada devido minha proximidade com o biografado, mas isso não
tornou o personagem menos interessante. Nesta segunda parte do texto, quando
exploro o gênero entrevista, mostro isso de forma ainda mais clara, pois a
opinião de Kydelmir sobre a cultura e a vida nos serve de guia para
compreendermos coisas importantes, mas também simples da vivência humana.
– Existe alguma coisa que não foi
visto na pesquisa em literatura de cordel?
– Olha, o cordel tem enveredado por
muitos caminhos. Como sempre fez, pois, desde a época de Leandro (Gomes de
Barros) era o jornal do interior. Os fatos, ocorrências, personalidades,
biografias, tudo saia em cordel e era vendido nas feiras. (Câmara) Cascudo diz
muito bem que o ciclo do gado foi muito utilizado no cordel. Hoje, em pleno
século 21, o que a gente vê muito é política no cordel. O que tivemos, em
meados do século passado, ficando muito mais forte a partir do início dos anos
1980, foi uma depreciação do cordel como sendo algo pobre, de sítio, escrita
menor e hoje é um gênero literário importante, reconhecido e estudado nas
academias e sendo utilizado em sala de aula. Eu acho, pessoalmente, que nada
escapa ao cordel. Não está faltando nada. Para qualquer lado que você for, o
cordel tem dito algo, desde a educação até assuntos mais gerais.
– Por que as pessoas não estão mais
escrevendo “romances”, que são aqueles cordéis maiores que contam histórias e
aventuras de amor?
– Pois é, é uma coisa que teve seu
ápice, os grandes clássicos eram, inclusive, publicados em formatos maiores,
naquele formado da editora Luzeiro, e hoje a editora Cordel, de José Augusto,
de Mossoró. Era mesmo muito comum. Eram cordéis que tinham de 24 estrofes em
diante. Hoje, praticamente não existem trabalhos romanceados. Isso era fruto de
uma época, quando não tínhamos a televisão e as novelas eram ouvidas no rádio.
Então, algumas novelas foram transformadas em cordéis, como “O direito de
Nascer”, por exemplo. Com o advento da televisão e das redes sociais o romance
perdeu seu encanto.
– Essas mídias tendem a suprimir e
fazer desaparecer o cordel?
– Dos anos 80 até o início do século,
o cordel deu uma caída grande, mas houve um boom a partir do início dos anos
2000 de tal forma que nem a televisão atrapalha e as redes sociais ajudam. A
prova maior é que está aí essa aparição, principalmente no Rio Grande do Norte,
desses poetas mirins, influenciados pela obra de um grande poeta que é Antônio
Francisco Teixeira de Melo, de Mossoró. Então, quando Antônio Francisco
desponta para o cordel, isso no início do século, pois o primeiro cordel
publicado por Antônio é de 2000, ele tem sido recepcionado como um novo gênio
do cordel brasileiro, principalmente depois que Gustavo Luz, da editora Queima
Bucha, reuniu seus cordéis e publicou o livro “Dez cordéis num cordel só”. O
que aconteceu, por exemplo, com o cordel “Os animais têm razão”, que é seu
grande clássico, que já saiu em cordel folheto pequeno, cordel folheto romance,
cordel ilustrado, em história em quadrinhos, já foi peça de teatro em inúmeras
escolas é um exemplo desse novo momento. Ou seja, “Os animais têm razão”
influenciou uma geração nova de meninos entre seis e 13 anos de idade que
começaram a ler cordel a partir dessa obra. Depois, aprenderam a declamar para
mostrar ao autor que sabiam ao menos uma estrofe do trabalho dele.
– Agora falando sobre você, como você se vê no mundo?
– Eu sou um cidadão que procuro fazer
a diferença, sem falsa modéstia. Como professor, sempre digo que não é só
profissão, mas também uma missão. Hoje, principalmente depois que me aposentei
e fiquei mais livre, mais à vontade, para pesquisar, para divulgar, palestrar,
dar aulas, a minha missão é essa. Quanto mais eu conseguir disseminar o que
aprendi durante a minha vida, o que eu consegui captar junto a meus mestres,
meus professores, à minha mãe, meu pai, o que eu puder divulgar disseminar é
uma missão. Isso eu faço com maior orgulho e satisfação, sabendo que um dia
alguém se lembrará de mim de alguma forma, nem que seja para dizer que leu um
livro porque eu indiquei.
– O que você viu da vida?
– Muita coisa boa e muita coisa ruim.
Mas, aos 60 anos, procurei filtrar as coisas ruins e deixar no esquecimento e
hoje olhar as coisas de modo positivo. Por exemplo, se uma coisa não deu certo
hoje, vai dar certo amanhã. Quando vejo alguém dizendo que não pode fazer isso,
não pode, passou. Então, vamos fazer o seguinte, vamos poder fazer, tentar
fazer. O que passou, passou. Vamos pensar positivo. Hoje tenho a facilidade,
que meus pais não tiveram, de estar ali em Nova Floresta e vir almoçar com meus
filhos em Natal. Entrar no meu carro e vir aqui a Natal. Há 30 anos eu não
tinha condições de fazer isso. Eu trabalhava em Mossoró e vinha em casa uma vez
por mês. Agora, o que aconteceu nesses 30 anos? Ganhei uma nova casa, porque eu
digo que Nova Floresta é meu berço de origem e Mossoró minha segunda casa.
Ganhei uma nova casa, novos amigos, me envolvi com a parte cultural da cidade e
fiquei conhecido no resto do País. Quando assumi a responsabilidade, por duas
gestões, de ser presidente da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, eu
passei a ser visto pelos pesquisadores do tema.
– Se você pudesse deixar um conselho, considerando a situação atual, o que você
diria se pudesse falar para um público nacional?
– Olha, estamos passando por um
período complicado, mas já passamos por períodos complicados antes também.
Muito jovem eu vivenciei isso. Quando estudante, principalmente na faculdade,
ainda estávamos sob uma ditadura. Havia repressão, agentes infiltrados para
saber quem era de esquerda, de direita. Mesmo depois da ditadura, também
tivemos perseguições políticas, por exemplo, se você fosse ligado a sindicato
era mal visto. Porém, superamos isso. Acredito que temos de ter confiança que
vamos superar. Fico preocupado quando vejo muita gente valente nas redes
sociais. Sou do tempo que a gente ia para as ruas. As redes sociais fizeram com
que nossos guerreiros se escondessem atrás de um computador.
– E para o jovem, o que você diria para eles?
– Leiam, estudem. Porque sem
conhecimento não existe esperança. Você tem de ter conhecimento, tem de ler,
não é só pegar telefone e mandar mensagens bonitinhas não. Você tem de ler para
conhecer, ler bons livros. Tem de estudar para ser alguém, não para fazer
prova. Estudar para ter conhecimento, para, no futuro, saber pelo menos o que
você sabe. Então é ler, é estudar.
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